26/04/2014

Atletas - Zumbis

   *Prólogo:

   Aula de educação física. Tema: Basquete.
   Aff. Basquete! Haja paciência. Odeio basquete! Aliás. Odeio qualquer esporte. Odeio educação física! Odeio a escola! Odeio minha vida! Odeio odiar tudo isso! Tá! Considere-me uma adolescente complicada. Minha mãe diz que é uma fase. Que vai passar. Eu não sei. Não sei se todos se sentem como eu... Minto! Nem todos se sentem como eu. Pois é impossível todos os 7 bilhões de habitantes do planeta, serem ou s sentirem da mesma forma. Confusos...
   Mas... Voltemos a aula de Educação Física...

*-*-*-*-*-*-*

   Eu estava sentada na arquibancada. Como sempre faço. Estava conversando com meu melhor amigo, Fernando, sobre uma coisa que odiamos em comum: esportes! Estávamos comentando sobre qual o pior esporte de todos. Mas ele teimava que era futebol, eu dizia que existiam bem piores.
   - Rê. Me dê um exemplo de um esporte pior que futebol então.
   - Quer um exemplo Fer? Ahm... Taí! Basquete!
   - ?
   - Quer coisa pior que ficar pulando, batendo a bola no chão. Argh! Horrível!
   - Ah. você diz isso porque é uma garota. Não tem que provar para ninguém o quanto é homem ou o quanto pode resistir a alguma coisa. Cansa!
   - E você também não sabe, nem nunca vai saber, o que é ser uma garota! Você não sabe o quanto é difícil!
   - Claro que não sei. Mas sei que o difícil mesmo é viver.
   - É. Tenho que concordar com você.
   Fiquei um pouco sem graça. Devo ter corado. Olhei para a quadra e notei que o jogo estava mais lento. Aproveitei a deixa para mudar o rumo da conversa:
   - Nossa! Parece que hoje eles estão mais lerdos que o normal...
   - Pois é. Parecem até zumbis.
   - Fernando... Olha direito pra eles... Eles estão muito parecidos com zumbis. Vou falar com o professor, deve ter algo errado...
   Nosso professor de E.F. era bem legal. Eu simplesmente não gostava da matéria. O professor era alto e forte. Várias garotas ficavam babando por ele, mas eu não. Eu apenas achava ele legal. Sinceramente, ele era o máximo.
   - Professor! Tem algo errado. Eu posso não gostar de esportes, nem jogá-los. Mas... eu sei que não é assim que se joga.
   - Zzz...
   - Professor? Tá tudo bem?
   - Zzz... Céééééérebroos...
   - Hein? Mas o que?
   - Zzz... Céééééérebroos...
   - Ai meu Deus... Fernando! Fernando!
   - Fala Rebekah! Me chamou?
   - Fer. Me ajuda. O professor tá estranho. Tá agindo como um...
   - Céééééérebroos... Céééééérebroos...
   Dissemos em uníssono:
   - Aaaaaah! Corre Fernando!
   - Aaaaaah! Corre Rebekah!
   Por fim. Corremos os dois. E os Zumbis andando... Bem... Andando não é a palavra certa para descrever. Eles estavam se arrastando em nossa direção. Corremos. Pulamos o portão da escola. Cegamos do outro lado. Andamos um pouco. Vimos uma árvore. Paramos em baixo de sua sombra e ele me disse:
   - Ufa! Conseguimos escapar!
   - Pois é. E que estranho. Por que eles viraram zumbis?
   - A pergunta não é por que, mas como. Eu simplesmente não entendo.
   - Bom. Conseguimos escapar não é?
   - É. Bom... Rebekah... Preciso te dizer uma coisa...
   - Fala Fer. Depois disso, nada mais me assusta.
   - É que... Bem... Eu...
   Ele olhou em meus olhos, depois desviou o olhar para o céu nublado.
   - Você...
   - Eu... Estou feliz que você tenha ficado a salvo.
   De repente, começou a chover. Nos levantamos.
   - Como eu imaginava. Chuva! Só para variar um pouco.
   - Ah! Quer saber?
   Ele me puxou para si e me beijou, intensamente, com a mãos em minha cintura, me puxando cada vez mais para o braço dele, quando de repente...
   - Rebekah!
   Acordei assustada. Eu estava na sala de aula. Era aula de inglês.
   - O que você está fazendo aí parada Rebekah? E por que estava dormindo? Por que ainda não juntou-se com sua dupla?
   - Zumbis!
   - Não Rebekah, o trabalho sobre zumbis é para a quinta. Agora é aula de Inglês! Acorda.
   - Fernando? Ai. Peraí. Então eu tava sonhando? Meu Deus!
   - Rebekah! Eu vou mandá-la para a diretoria por dormir na minha aula mocinha!
   - A culpa não é dela professora!
   - Não? Então de quem é a culpa Fernando?
   - É minha professora! Eu pedi pra ela me ajudar em uma lição ontem a noite. E ela acabou dormindo tarde. Por culpa minha. Me desculpe.
   - Mas... Fernando... O que?
   - Pois bem. Já tenho minha decisão.
   Dissemos eu e Fernando simultaneamente:
   - Já?
   - Sim. É melhor você ir para casa Rebekah. Não farei nada a respeito, mas você deve voltar para a sua casa. Para poder descansar.
   - Eu não posso professora! Tenho prova na terceira aula. Fiquei estudando a semana toda para essa prova! Não posso simplesmente ir embora!
   - Então descanse querida. Fernando pega a matéria para você.
   - Aham...
   Debrucei-me na carteira e descansei. Bom... nem tanto... Fiquei pensando por que eu estava sonhando com o Fernando. Será que... Bom. Vou tentar dormir. Estou cansada...
   Acabei de acordar. Quer dizer... O Fer me acordou. É aula de Ed. Física. Droga! Ele disse que quer falar comigo depois. Não sei o que. Mas tenho ideias...
   - Alunos! Hoje vamos para a quadra! O tema da aula é Basquete!
   Era o que eu temia! Só faltava essa. E tem o meu sonho... O lado bom é que vou poder descobrir o final da história. Talvez...
   - Professor! Eu estou com dor na perna, devo ter torcido quando estava vindo para a escola. Não vou poder participar da aula!
   - Como sempre. Não é Rebekah?
   - Ah professor. Você sabe que eu moro longe!
   - E você Fernando? Qual a desculpa de hoje?
   - Nenhuma professor. Só não quero participar. Além disso. Vou seguir seu conselho.
   - Entendo. Mas, mesmo assim conta falta. Sabe disso não é?
   - Sei sim professor.
   - Então tá. Boa sorte!
   Fiz aquela cara de ponto de interrogação. Era a mesma coisa que perguntar: "Boa sorte? Conselho? Desde quando você e o professor viraram amigos?". Tá. Pode me chamar de ciumenta mas, ele é meu melhor amigo poxa! Eu tenho o direito de saber!
   - Depois eu te explico Rê.
   - Fernando...
   - Diga.
   - Nada não. Depois eu falo.
   Caminhamos até uma árvore que tinha atrás da quadra. Nos sentamos lado a lado e então ele me disse:
   - Lembra da quinta série? Quando você me disse que gostava do Jonny?
   - Claro. Nossa! Faz tanto tempo...
   - Eu... Bem...
   - Você?
   - Ai. Como eu digo isso? Eu não sei se consigo dizer...
   - Fernando. Confia em mim. Pode dizer.
   - Mas... Primeiro... Diz o que você ia dizer.
   - Bom... Na sala de aula eu estava sonhando, haviam zumbis, eu e você.
   - Me conta o seu sonho.
   - Era Ed. Física. Como agora. O tema era basquete, como agora. Estávamos conversando na arquibancada sobre qual seria o pior esporte. Então todos que estavam na quadra viraram zumbis. Nós saímos correndo. Saímos da escola e sentamos em baixo de uma árvore, como agora. E...
   - E?
   Seus olhos transmitiam esperança, curiosidade e medo. Seu coração pulsava forte. Ele estava agitado, nervoso e assustado. Eu tirei coragem de não sei onde e o beijei. Ele correspondeu. Foi forte, intenso, perfeito! Segundos depois nos soltamos. Olhei em seus olhos e disse:
   - E então você me beijou. Como agora eu te beijei.
   - Bem realista seu sonho. Poderia ser uma premonição, ou talvez uma coincidência.
   - Coincidências não existem. Talvez seja uma forma de mim mostrar a verdade para mim mesma. Sabe. Eu sempre senti algo especial, diferente, em relação a você. Mas não sabia o que pensar. Então continuei sua amiga, não tinha coragem para dizer a verdade. Cara a cara.
   - Eu entendo. Experiência própria.
   Sorrimos, então me lembrei dos zumbis! Quando abri a boca para falar ele me disse:
   - Os zumbis!
   Saímos correndo para olhar na quadra, o jogo ocorria como sempre. Rápido e exaustivo. Voltamos para debaixo da árvore rindo, correndo, brincando... Felizes.
   Sentamos debaixo da árvore e ele me disse:
   - Quer namorar comigo?
   - Ainda pergunta?
   Beijei-o. Ele sorriu, olhou em meus olhos e me disse:
   - Amo você!

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